Mudança nos lares brasileiros: uniões consensuais superam casamentos formais e famílias com filhos deixam de ser maioria

Por: Redação | Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil


O modelo tradicional de família brasileira está mudando. Dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que as uniões consensuais, aquelas sem registro civil ou religioso, já superam os casamentos formais no país. Ao mesmo tempo, o número de famílias com filhos caiu para menos da metade do total, enquanto aumentam os casais sem filhos e as pessoas que vivem sozinhas.

Em 2022, 38,9% das uniões no Brasil eram consensuais, o equivalente a mais de 35 milhões de pessoas. Há vinte anos, esse percentual era de 28,6%. Os casamentos civil e religioso, antes maioria, caíram de 49,4% para 37,9% no mesmo período. A tendência reflete uma nova dinâmica de comportamento, especialmente entre jovens e pessoas de menor renda.

Entre brasileiros de até 39 anos, a convivência sem formalização é predominante. Na faixa de 20 a 29 anos, quase um quarto vive em união estável, enquanto menos de 6% optam pelo casamento civil e religioso. Para o IBGE, essa mudança está ligada à busca por relações mais flexíveis e ao adiamento de compromissos formais, motivado por fatores econômicos e culturais.

A pesquisadora Luciane Barros Longo, do instituto, explica que a união consensual é mais comum entre os mais jovens e nas faixas de renda mais baixas. Ela lembra que, desde 2017, uma decisão do Supremo Tribunal Federal equiparou a união estável ao casamento em direitos sucessórios, o que ajudou a consolidar esse formato como alternativa legítima.

Metade da população com 10 anos ou mais vivia em algum tipo de relação conjugal em 2022, o que representa 90 milhões de pessoas. O índice era de 49,5% em 2000. O número de quem já viveu uma união, mas hoje está solteiro, separado ou viúvo, também aumentou, chegando a 18,6%. O levantamento identificou ainda 34,2 mil crianças de 10 a 14 anos vivendo em união conjugal, a maioria meninas. O IBGE destaca que esses dados não permitem concluir se os parceiros são da mesma idade ou adultos.

Outro destaque do Censo é o novo retrato das famílias brasileiras. Pela primeira vez desde 2000, casais com filhos deixaram de ser maioria, representando 45,4% dos 61,2 milhões de lares do país. Em 2000, eram 63,6%. Já os casais sem filhos quase dobraram, passando de 14,9% para 26,9%. A queda na fecundidade, o envelhecimento da população e a inserção feminina no mercado de trabalho ajudam a explicar essa transição.

As moradias com apenas uma pessoa também cresceram. Em 2022, 19,1% dos domicílios eram unipessoais, o equivalente a 13,6 milhões de brasileiros. Homens predominam até os 54 anos, mas entre os mais velhos as mulheres são maioria, reflexo da maior expectativa de vida feminina.

O levantamento mostra ainda o avanço das uniões homoafetivas, que cresceram mais de oito vezes desde 2010, passando de 58 mil para 480 mil. Elas representam 0,7% das uniões conjugais, sendo 58% formadas por mulheres. A maioria ocorre na forma consensual. Para o IBGE, esse aumento está ligado à maior aceitação social e ao reconhecimento jurídico das uniões homoafetivas desde 2011.

Os dados revelam um país em transformação. As uniões formais perdem espaço para relações mais livres, os lares se tornam menores e diversos arranjos convivem no mesmo cenário social. O Brasil de 2022 mostra que a ideia de família deixou de seguir um único modelo e passou a refletir as muitas formas de viver e conviver no século XXI.

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