Atlas da Violência 2025 – Brasil registra menor número de homicídios em 11 anos, mas Roraima segue entre os estados mais violentos

Por: Redação | Foto: Jader Souza


O Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revelou que o Brasil registrou 45.747 homicídios em 2023, a menor taxa dos últimos 11 anos, ainda que a redução em relação ao ano anterior, quando ocorreram 46.409 mortes, tenha sido discreta. Apesar da tendência de queda no cenário nacional, Roraima permanece entre os estados mais violentos do país, , com índices alarmantes especialmente em relação à violência letal e de gênero.

BRASIL

A queda nos homicídios pode ser explicada por vários fatores. O envelhecimento da população e a redução das disputas entre facções criminosas são algumas das causas. Além disso, a adoção de políticas de segurança pública baseadas em inteligência e planejamento, em vez do policiamento ostensivo, também tem sido importante para reduzir a violência letal. Desde 2016, 11 estados conseguiram reduzir sistematicamente os homicídios, com destaque para São Paulo, Minas Gerais e o Distrito Federal.

Por outro lado, o número de homicídios “ocultos”, ou seja, mortes violentas cuja causa não foi identificada corretamente, segue sendo um problema. Entre 2013 e 2023, 8,6% das mortes por causas externas no Brasil não tiveram intencionalidade identificada, totalizando 135.407 vítimas. Estima-se que ocorreram 51.608 homicídios ocultos no período, uma média anual de 4.692 casos que não foram contabilizados oficialmente. Esse fenômeno é mais pronunciado em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Após a repercussão do relatório de 2024, 21 estados melhoraram a qualidade dos registros, reduzindo as mortes violentas por causa indeterminada. O Espírito Santo foi o destaque, diminuindo os homicídios ocultos de 205 em 2022 para apenas sete em 2023, tornando-se o estado com a menor taxa do país.

Outro dado preocupante é o aumento da violência contra jovens, que representa 34% das mortes entre 15 e 29 anos no Brasil. A maioria das vítimas são homens, e a violência letal entre esse público segue elevada, com uma média de 60 jovens mortos por dia no país.

Em relação à violência contra as mulheres, o relatório aponta um crescimento nas mortes femininas, com destaque para o aumento da violência letal contra mulheres negras, que representam 68,2% das vítimas de homicídios femininos, confirmando que a violência atinge desproporcionalmente os grupos mais vulneráveis.

O estudo também revela que a violência não letal contra crianças e adolescentes, incluindo abusos físicos e psicológicos, tem crescido. Em 2023, as notificações de violência contra esse público aumentaram 36,2% em relação ao ano anterior.

No caso dos povos indígenas, a taxa de homicídios registrados foi superior à nacional em 2023: enquanto a taxa nacional foi de 21,2 por 100 mil habitantes, a de indígenas foi de 22,8, com aumento de 6% em relação a 2022. Embora historicamente superior, a taxa de homicídio indígena apresentou expressiva redução: de 62,9 por 100 mil indígenas em 2013 para 23,5 em 2023 — uma queda de 62,6%. 

Além da violência física, o Atlas de 2025 também abordou os homicídios no trânsito, que têm aumentado nos últimos anos, especialmente entre motociclistas. Entre 2010 e 2019, o Brasil registrou 392 mil mortes em acidentes terrestres, um aumento de 13,5% em relação à década anterior. A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes cresceu 2,3% no período.

A tendência de aumento continuou entre 2020 e 2023, com destaque para o crescimento expressivo das mortes envolvendo motociclistas, que aumentaram mais de 10 vezes nos últimos 30 anos. A situação é mais grave em Piauí, onde 69% dos óbitos no trânsito envolvem motocicletas, e em sete estados essa proporção supera 50%, sendo seis no Nordeste e um na Região Norte. No país, 16 estados apresentam um índice de óbitos de motociclistas acima da média nacional, reforçando a preocupação com a segurança viária.

RORAIMA

Já Roraima, com uma taxa de 35,9 homicídios por 100 mil habitantes, ocupa a quinta posição no ranking nacional de homicídios, ficando atrás apenas de Amapá (57,4), Bahia (43,9), Pernambuco (38) e Amazonas (36,8). O índice é quase o dobro da média nacional, que ficou em 23,3 homicídios por 100 mil habitantes, e reforça a necessidade de medidas urgentes no estado para conter a criminalidade.

O cenário é ainda mais grave quando se observa a violência contra mulheres. Roraima apresenta a maior taxa de homicídios femininos do país, com 10,4 mortes por 100 mil mulheres, número que representa quase três vezes a média nacional, de 3,5 por 100 mil. O dado coloca o estado no centro do debate sobre feminicídio e violência de gênero no Brasil, evidenciando um ambiente de alta vulnerabilidade para as mulheres.

Especialistas atribuem esses números elevados a fatores como a fronteira internacional com a Venezuela e a Guiana, o intenso fluxo migratório e a atuação de facções criminosas, que disputam rotas de tráfico e áreas de influência. Esses elementos aumentam a complexidade do controle da violência e dificultam a atuação das forças de segurança.

Apesar de uma redução expressiva de 53,8% nos homicídios entre 2021 e 2024, Roraima ainda convive com níveis críticos de violência. O relatório do Atlas reforça que, mesmo com oscilações nos números, o estado permanece em situação de alerta, exigindo ações integradas de segurança pública, políticas sociais e fortalecimento das redes de proteção às vítimas.

COLETA DE DADOS

Os dados do Atlas da Violência são obtidos a partir de registros oficiais de mortes e crimes no Brasil. As principais fontes são o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que reúne dados de óbitos registrados por cartórios e hospitais, e os sistemas de segurança pública estaduais, que informam ocorrências como homicídios e feminicídios.

Os pesquisadores do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública cruzam essas informações, corrigem possíveis falhas e classificam os casos por idade, sexo, cor da pele e local. Também aplicam métodos de aprendizado de máquina para estimar homicídios ocultos, ou seja, mortes violentas que não foram classificadas corretamente como homicídios. Esse processo permite corrigir subnotificações e ajustar os números reais da violência no país.

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