Mudanças climáticas elevam custo de vida e ameaçam modos de vida na Amazônia, aponta pesquisa

Por: Redação | Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real – Reprodução Agência Senado


Uma pesquisa realizada pela Umane e pela Vital Strategies, com apoio do Instituto Devive, revelou que um em cada três moradores da Amazônia Legal já percebe mudanças no clima afetando diretamente sua vida. Entre os povos tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e seringueiros, esse número é ainda maior: mais de 42% já sentem os impactos no cotidiano.

Segundo especialistas, o modelo de desenvolvimento adotado na região, baseado na construção de grandes hidrelétricas, na expansão do agronegócio e no desmatamento, tem gerado prejuízos ambientais e sociais. Isso afeta especialmente quem vive em contato direto com a natureza e depende dela para sobreviver.

Entre os principais efeitos percebidos pela população estão o aumento na conta de luz, sentido por 83% dos entrevistados, o calor acima do normal (82%), a poluição do ar (75%), a maior frequência de desastres ambientais (74%) e o aumento no preço dos alimentos (73%).

Nos últimos dois anos, muitos moradores relataram ter enfrentado ondas de calor intensas, secas prolongadas e incêndios florestais. Também foram mencionadas pioras na qualidade da água e do ar, além de dificuldades na produção de alimentos, especialmente entre os povos tradicionais.

A pesquisa, intitulada Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal, foi realizada entre os dias 27 de maio e 24 de julho de 2025, de forma online, com 4.037 participantes dos nove estados que compõem a Amazônia Legal. Os dados estão disponíveis no Observatório da Saúde Pública.

O estudo também mostrou que a população está tentando agir diante do problema. Mais da metade afirmou ter mudado hábitos para evitar contribuir com o agravamento da situação. Muitos também disseram sentir culpa ao desperdiçar energia. Separar o lixo para reciclagem é uma prática comum para 64% dos moradores, chegando a 70% entre os povos tradicionais.

Apesar de serem os mais afetados, esses povos também são os que mais contribuem com soluções. Eles possuem uma forte cultura de organização comunitária e conhecimentos ancestrais sobre como lidar com a natureza de forma sustentável. Esses saberes são valiosos e devem ser respeitados e incluídos nas decisões sobre o futuro da região.

A responsável técnica pela pesquisa, Luciana Vasconcelos Sardinha, defende que é urgente investir em políticas públicas que reduzam as desigualdades regionais e fortaleçam a governança local. Segundo ela, o problema já está acontecendo e exige ação conjunta, com planejamento, recursos e participação da população, para garantir um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.

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