Pesquisa brasileira propõe nova técnica para testes de antiveneno sem uso de roedores

Por: Redação | Foto: Reprodução/Butantan


Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pode mudar radicalmente a forma como o Brasil testa a eficácia dos soros antivenenos. A pesquisa, conduzida pelo Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde (INCQS), propõe substituir os testes em camundongos por uma técnica laboratorial mais simples e eficiente, baseada em células Vero cultivadas in vitro.

A nova abordagem representa um avanço significativo não apenas do ponto de vista científico, mas também ético e econômico. Ao eliminar o uso de animais, o método reduz o sofrimento animal, acelera o processo de liberação dos soros e pode cortar os custos em até 69%. Atualmente, os testes convencionais exigem milhares de roedores, que passam por um processo longo e doloroso antes de serem sacrificados.

O projeto já atingiu a fase de pré-validação, um marco inédito para pesquisas com antivenenos. Essa conquista rendeu reconhecimento internacional: o estudo foi premiado pela Sociedade Europeia para Alternativas ao Uso de Animais em Testes e recebeu menção honrosa de um centro britânico especializado em métodos substitutivos. É a primeira vez que uma metodologia voltada ao controle de qualidade de soros contra veneno de serpentes alcança esse nível de validação.

No Brasil, as serpentes do gênero Bothrops, como jararacas, urutus e cotiaras, são responsáveis por cerca de 90% dos acidentes com cobras. Só em 2025, mais de 12 mil casos foram registrados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar da gravidade, o tema ainda é considerado uma doença tropical negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sem interesse comercial por parte da indústria farmacêutica.

Por isso, a produção e os testes dos soros antiveneno são realizados por instituições públicas como o INCQS/Fiocruz, Instituto Vital Brazil, Instituto Butantan e Fundação Ezequiel Dias. A nova metodologia, que utiliza placas com células Vero expostas a uma mistura de soro e veneno, permite avaliar a eficácia do produto em apenas uma semana. Se as células permanecem intactas, o soro é aprovado. Já se houver danos, é reprovado.

A etapa atual da pesquisa envolve a reprodutibilidade: outros laboratórios estão testando o método para verificar se os resultados obtidos pelo INCQS podem ser replicados. A expectativa é que, a partir de março de 2026, o procedimento seja oficialmente adotado, com kits de ensaio distribuídos para os centros produtores.

Há também planos de expansão internacional. Países como Costa Rica, onde serpentes do gênero Bothrops são comuns, podem se beneficiar da tecnologia. Em dezembro, está prevista uma reunião com produtores e especialistas para discutir a aplicação prática da metodologia e ampliar sua alcance.

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