Cortei o cabelo

Por: Bruna Cássia


Quando queremos virar a página de um momento difícil nós mudamos o cabelo. E, nos últimos 7 anos, eu tenho feito muito isso. Comecei a saga com um corte. Depois foram muitos cortes e muitas cores: vermelho, preto, amarelo, marrom e até rosa. Não necessariamente nesta ordem.

Iniciei 2023 com o mesmo objetivo. E lá fui eu cortar de novo o cabelo. Fiquei até mais leve! A ida ao salão, se acomodar no lavatório, ajustar a cadeira e ouvir o tinido da tesoura parecem até mágica.

A gente sai outra pessoa, mais bonita e mais confiante. Mas quanto tempo essa sensação nos acompanha? Comigo, duram poucos meses. Às vezes, semanas.

Esses mesmos 7 anos de mudanças de cabelo, na busca de olhar no espelho e me reconhecer dentro dos meus olhos, é o período que eu lembro que me perdi. Me perdi dentro de mim e sigo na busca de me encontrar.

Por alguma razão, chegar à vida adulta me desestabilizou e eu não soube lidar com as responsabilidades que essa mesma vida cobra. E foi assim, que aos 21 anos, eu senti o primeiro sintoma do Transtorno de Ansiedade.

Desde então, uma avalanche me seguiu em relacionamentos amorosos, amizades e trabalhos. Passei por situações que não merecia, magoei pessoas, não senti nada pela vida, senti demais em outros momentos. E assim fui seguindo até hoje.

Segui até hoje pelo tabu e pela teimosia: “eu consigo sarar sozinha”. E até que por um tempo eu consegui.

Ao longo desses anos, tive muitos momentos de felicidade plena, consegui me reencontrar uma ou duas vezes, e tinha um brilho pelo qual eu sinto falta até hoje.

Mas isso não durou muito tempo. Quando eu, finalmente, amadureci mais um pouco e já estava sendo quase tarde demais para mim, eu vi que para ficar bem de verdade eu precisa dos outros.

Eu precisava da atenção da minha família, da preocupação dos meus amigos, do cuidado do meu namorado, da compreensão da minha chefe (e foi o que eles me proporcionaram). E, principalmente, eu precisava ouvir o principal conselho que todos eles me deram: buscar ajuda profissional.

Iniciei a terapia com a promessa de seguir até o fim, após abandonar o procedimento por seis vezes anteriormente; fui encaminhada ao psiquiatra; estou fazendo atividade física.

Também decidi retomar hábitos que fazem de mim eu mesma como ler, meditar e fortalecer minha fé no que eu acredito.

Segundo após segundo, eu sinto meu ‘medidor de Bruna’ subindo, se completando. Finalmente, estou vendo a vida com mais leveza, estou mais paciente (do que já era), estou desacelerando meus pensamentos.

E, estou aplicando a frase favorita da minha vida e que muitos amigos já ouviram em conselhos meus: o problema só é um problema se você o vir dessa forma. Se é uma situação da qual você consegue resolver, não tem por que sofrer por isso.

Dentro do meu coração, eu tenho a intensa sensação de que “agora vai!”. Que eu vou me curar da minha doença, que eu vou me reencontrar, que eu vou rever a felicidade plena e que, quando surgir turbulências, elas não vão me abalar mais do que deveriam.

Quero voltar daqui um ano após ter vivido o melhor ano da minha vida, viver um longo período sem sentir mal-estar pela primeira vez em anos, e com um novo corte de cabelo unicamente por motivos de retoque e saúde dos fios.

Bruna Cássia, jornalista e repórter do site Conexão Boa Vista.

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