Avanço do oropouche no Sudeste acende alerta sobre impacto do desmatamento na Amazônia

Por: Redação | Foto: Fiocruz/Divulgação
Estudos recentes mostram que o vírus oropouche, tradicionalmente restrito à região Amazônica, está se expandindo para o Sudeste do Brasil impulsionado por fatores como desmatamento, mudanças climáticas e degradação ambiental. Pesquisas lideradas por cientistas da Fiocruz confirmam que, desde o início de 2024, o vírus chegou ao Espírito Santo e ao Rio de Janeiro, criando sublinhagens locais e provocando surtos em municípios de pequeno porte.
Com sintomas semelhantes aos da dengue e da chikungunya, o oropouche é transmitido principalmente pelo maruim (Culicoides paraensis), um inseto que se prolifera em áreas de vegetação densa e matéria orgânica em decomposição. A chegada da doença ao Sudeste foi marcada por rápida disseminação: no Espírito Santo, 339 casos foram confirmados entre março e junho de 2024. Já no Rio de Janeiro, mais de 1,5 mil registros ocorreram até maio de 2025.
As análises genômicas revelam um cenário de múltiplas introduções do vírus oriundas da Amazônia e indicam um preocupante intercâmbio viral entre os dois estados. A sublinhagem identificada como OROVRJ/ES ilustra como o vírus não apenas se expandiu geograficamente, mas também passou a circular de forma sustentada em novos ambientes.
O padrão de propagação observado — com deslocamentos curtos e concentração em municípios próximos à Mata Atlântica — reforça a conexão entre saúde humana e preservação ambiental. Segundo especialistas, o desmatamento tem criado nichos ecológicos favoráveis à expansão de vetores, além de expor populações vulneráveis a novas zoonoses.
Além de alertar para o risco de novos surtos em áreas ainda não afetadas, os estudos apontam a importância da vigilância genômica no diagnóstico e monitoramento da doença. Sem testes específicos, os casos de oropouche poderiam ser confundidos com outras arboviroses, como a dengue, dificultando o controle eficaz da transmissão.
A nova presença do oropouche em regiões como Espírito Santo e Rio de Janeiro amplia o desafio sanitário nacional e exige uma resposta articulada entre vigilância epidemiológica, proteção ambiental e políticas públicas de saúde. Os dados revelam não apenas uma crise viral em movimento, mas também um reflexo da crescente fragilidade dos ecossistemas diante da ação humana.