Cantoras relatam desafios e conquistas no cenário musical roraimense

Ana Lu, Katty Morais, Laís Tomé, Nadynne e Thalita são algumas das artistas mulheres em Roraima que têm conquistado espaço em um setor dominado por homens

Por: Bruna Cássia | Fotos: arquivo pessoal

Provavelmente você já deve ter ouvido os nomes Ana Lu, Katty Morais, Laís Tomé, Nadynne e Thalita em algum momento. Esses são nomes da música roraimense, que cada vez mais têm conquistado espaço no cenário musical seja cantando Raggae, Sertanejo, Rock, Pop ou Forró.

Assim como a maior parte das profissões, a Música ainda é dominada por homens, porém, a realidade está mudando, mesmo que aos poucos.

Em uma conversa exclusiva com o Conexão Boa Vista, as cantoras relataram os desafios e as conquistas da profissão delas.

Ana Lu, que tem uma pegada Reggae+Pop+Regional, detalha quais são os desafios no mundo da música em Roraima para ela.

Foto: Lucas Lucchesi

“O apreço ao trabalho autoral de novos artistas, a valorização através do prestígio do público. Temos também poucas casas culturais e ainda poucos projetos de incentivo e pontos de mostra proveniente dos poderes públicos”, disse.

Apesar disso, ela acredita que a mulher tem, sim, garantido mais visibilidade atualmente.

“As mulheres estão ocupando seu espaço na profissão que desejam, na área em que gostam. Vemos cada vez mais mulheres a frente de negócios e projetos culturais, com orgulho e coragem para mostrar sua arte e/ou demais”, pontuou.

Para ela, a música representa vida, força e coragem. “A música me fez reencontrar meu verdadeiro propósito, minha paixão e foco de vida. Me trouxe a paz que eu precisava para seguir todos os dias, sonhando e perseverando”, destacou.


Foto: divulgação

Katty Morais apostou no Sertanejo. Sempre com a agenda cheia e clipes lançados no YouTube, ela tem lutado para manter o sonho da música.

Ela acredita que os desafios são difíceis para os dois gêneros no estado de Roraima, por causa da falta de gravadoras de alto porte e falta de interesse de empresários. Porém, para a mulher, as coisas tendem a ser ainda mais árduas.

“Os maiores desafios são a falta de gestores, incentivos e atenção de políticos. A mulher sofre ainda mais um pouco por conta do preconceito, falta de respeito e até assédios”, destacou.

Ela concorda que, apesar dos entraves, alguns nomes da música brasileira contribuíram para o reconhecimento da mulher nesta área.

“Como exemplo temos a cantora Marília Mendonça, falecida há pouco tempo, mas que atuou como intérprete e compositora. Temos vários talentos como esse no país. O crescimento é significativo e a resposta do público também”, disse.

Apesar das dificuldades, Katty segue em frente e não se deixa abalar. Afinal, para ela, a música é algo que ninguém vive sem.

“Não existe festa sem música, não existe alegria sem música. A música traz alegria às pessoas. É uma terapia tanto pra quem executa a arte como para quem recebe essa arte. Para mim, a música é uma herança celeste deixada por Deus aqui na terra”, concluiu.


A Laís Tomé é a única vocalista de banda de rock da capital, Tara Sonora. Uma grande responsabilidade que ela honra gloriosamente. Ela também deu o ponto de vista sobre os desafios neste cenário. Confira na íntegra:

Foto: divulgação

Quais os desafios no mundo da música em Roraima, principalmente no Rock, em que a maioria são vocalistas homens?

“O maior desafio em Roraima, com certeza, é cantar Rock. Sabemos que o que predomina no cenário do estado são outros estilos musicais e, consequentemente, é o que ganha mais espaço e visibilidade. Então, para seguir por esse caminho é preciso bastante instinto de sobrevivência musical e acreditar que vai dar certo. Que bom que temos ainda casas que apostam nesse segmento mais impopular, digamos assim, o que nos dá também espaço para trabalhar e se divertir com nosso público. Não encaro a predominância masculina como algo ruim. Não que seja fácil, mas vejo como uma forma de me destacar na cena. Um vocal feminino cantando Rock traz um grande diferencial e fico extremamente feliz vendo que estamos sendo cada vez mais aceitas e respeitadas”, disse.

Você acredita que a mulher tem conquistado seu espaço atualmente? De que forma?

“Nós sempre estivemos aqui, fazendo nosso som e levando nossa arte para aqueles que querem aprecia-la. Não acho que falte ganhar espaço, isso tem pra todo mundo, seja qual for o gênero ou estilo. Então, é só cada qual seguir seu caminho respeitando e contribuindo com o caminho dos outros. Pode até parecer um pensamento utópico, mas não acho que seja uma competição. Acredito que se você manter o foco e desempenhar bem seu papel, sem desmerecer o trabalho do outro, o reconhecimento vem”, pontuou.

O que a música representa pra você?

“TUDO! Nem sei se é possível resumir. A música esteve, e está, presente em todos os momentos da minha vida, dos piores aos melhores. É minha rota de fuga, mas também é meu caminho de volta. Quando estou no palco sinto na pele cada pulsar e me transformo no que de fato sou. Não é a artista ali, sou eu. É sinérgico. Fica até difícil explicar de uma maneira compreensível, só sentindo para entender. Não é apenas um hobby ou mais um meio de ganhar dinheiro, é muito mais que isso. É o que me tira de mim, me despe dos medos, é o que me salva de mim mesma”, concluiu.


Foto: arquivo pessoal

POLÍTICAS PÚBLICAS

Este é o tema que mais foi citado pelas cantoras: a falta de Políticas Públicas para o cenário musical roraimense. A cantora Nadynne, que faz dupla com Ana Kelli e tem o restante da banda composta somente por mulheres, reforça este tópico.

“Percebo muito a falta de apoio por parte dos órgãos responsáveis em executar ações culturais. São muitas as dificuldades, principalmente para as mulheres da música, que muitas vezes tem portas fechadas pelo simples fato de serem mulheres”, pontuou.

Para ela a luta por visibilidade feminina não é fácil. “Mesmo com dificuldades, as mulheres estão tendo uma visibilidade maior devido a grandes nomes como Marília Mendonça, Maiara e Maraísa, entre outras mulheres que ralaram muito pra conquistar esse espaço, que ainda é desigual no nosso país. As mulheres lutam todo dia por visibilidade na música, não é fácil”, resumiu.

Ela foi uma que “ralou” muito para se tornar renomada no estado. Com uma pegada de sertanejo e MPB, Nadynne sempre anima a noite boa-vistense com seus shows.

“A música representante amor, trabalho e crescimento profissional. Ralei muito pra divulgar meu trabalho no estado e fazer música representa toda conquista da caminhada árdua que foi no passado pra chegar onde cheguei”, finalizou.


Outro nome do Sertanejo é a cantora Thalita, que faz dupla com o irmão Kauan. Para ela, a desvalorização do profissional ainda é um entrave para alcançar o reconhecimento.

“Muitos contratantes optam por shows mais baratos e com isso os artistas mais dedicados acabam sendo desvalorizados”, reforçou.

Assim como as colegas, ela acredita que a explosão das mulheres no Sertanejo a nível nacional abriu muitas portas. “A música tem sido perfeita nesse momento para nós mulheres mostrarmos nossa voz e desenvoltura. No nosso estado tem surgido muitos talentos musicais que estão esperando o momento certo para serem reconhecidos”, exemplificou.

Quando perguntado o que a música representa para ela, Thalita foi enfática: “Pra mim a música representa afeto, aconchego e muitas das vezes conselhos. Tem também muita verdade muita verdade. A música é viver!”.

Foto: divulgação

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