Mulheres relatam experiência com a Capoeira em Boa Vista: ‘Espaço de luta e igualdade’

A capital Boa Vista abriga diversos pontos da prática que ocorre desde a década de 60

Por: Bruna Cássia | Foto: arquivo pessoal

Como a maioria das profissões, práticas e hobbies, a Capoeira é uma modalidade com predominância masculina. A razão disso ocorre desde que o “o mundo é mundo”, por causa da cultura machista nas sociedades.

A luta para combater este comportamento também ocorre há muito tempo e a cada dia que passa as mulheres vêm conquistando seu espaço, inclusive, na Capoeira.

Em Boa Vista, ainda não existem mulheres Mestres, mas muitas delas são líderes de Rodas. Marcela Vasconcelos é uma delas. São 18 anos de história com a Capoeira, que iniciou por acaso.

“Eu comecei a treinar por curiosidade. Na época eu morava próximo ao Malocão do bairro Caumé e sempre passava por lá. Via os alunos treinando, achava muito interessante e resolvi começar a treinar capoeira”, relembrou.

Ao longo desses anos, a prática se tornou muito importante para Marcela: “A Capoeira representa a minha vida porque foi a partir dela que eu construí a minha família, é nela que tenho os meus irmãos juntos e é nela que eu quero estar até quando puder”, disse.

Para ela, a mulher vem usando a Capoeira como espaço de luta e igualdade, que é justamente um dos ensinamentos mais importantes que a modalidade oferece à sociedade.

“A mulher na Capoeira vai muito além da graça e da beleza que elas proporcionam a essa manifestação. A mulher sendo respeitada e valorizada numa roda de capoeira garante que esse espaço seja cada vez mais democrático, onde a diversidade e a convivência harmoniosa entre os diferentes significam um exemplo de tolerância e convívio social nesse mundo tão cheio de preconceitos e discriminações”, completou.

A capoeirista Ana Senzala também acredita que a prática deve ser democrática, sendo algo importante para pessoas de todos os gêneros e idades.

“Nem sempre os homens dão voz à mulher e dificilmente uma mulher conduz uma Roda de Capoeira. Porém, a mulher tem a mesma importância que o homem, pois sempre digo que a Capoeira é pra homem, menino e mulher, não tem idade pra começar e nem para parar”, reforçou.

Entre pausas, Ana pratica a modalidade desde os 13 anos de idade. Conheceu a Capoeira no Pará e quando mudou para Roraima deu continuidade ao hobbie.

“A Capoeira é meu refúgio, é minha distração, meu bem-estar. Não sei até quando conseguirei jogar, pois já estou bem machucada e com uma idade avançada, mas enquanto puder estarei lá na roda. Mesmo que eu não consiga jogar, eu vou para tocar. E quando não puder tocar, eu vou cantar. Quando não puder cantar, irei bater palma na roda. E dessa forma a Capoeira estará comigo até o fim da minha vida”, disse, orgulhosa.

Marcela Vasconcelos pratica Capoeira há 18 anos. Foto: arquivo pessoal

Quando iniciou a Capoeira em Boa Vista?

Acredita-se que as Rodas de Capoeira iniciaram em Boa Vista na década de 60 durante Blocos de Carnaval. As informações foram repassadas pelo Mestre Caimbé ao capoeirista Marcio Akira. “Ele é formado em Educação Física e fez o Trabalho de Conclusão de Curso sobre a Capoeira. Durante as pesquisas, ele apurou que as Rodas foram trazidas ao estado, provavelmente, por pessoas do Exército que estavam na região de passagem”, contou Akira.

Parque Anauá, Praça das Águas, Caxambú são alguns dos lugares que tiveram ou têm Rodas de Capoeira. O espaço mais tradicional é na Igreja Matriz, em que Marcio participa ativamente.

Além das Rodas, anualmente ocorre a graduação dos capoeiristas durante oficinas que recebem mestres de fora do estado. Com isso, ocorre intercâmbio e trocas de experiências.

Marcio cita três pontos que reforçam a importância da Capoeira na Sociedade: Integração Social, Preservação da História do Brasil e Respeito.

“A Capoeira é extremamente democrática. Pessoas de todos os tipos como crianças, adultos, homens, mulheres de diversas crenças, gêneros e classes sociais, ou seja, todo mundo, pode fazer parte da roda, o que contribui para a Integração Social”, iniciou.

“Também garante a preservação da história do Brasil contada por aqueles que não estão nos livros, que é o povo, bem como o acesso à Cultura porque as pessoas participam de Rodas em lugares turísticos da cidade”, explicou.

Em relação ao respeito, Akira explica que na Capoeira são ensinados valores neste sentido. “A gente cria um respeito maior pelos mestres mais velhos, respeitamos os companheiros, além do nosso corpo e nossos limites. Tudo isso gera grande importância para a sociedade”, reforçou.

O papel das mulheres nas Rodas de Capoeira

As mulheres estão presentes nas Rodas, porém ainda em menor número. Boa Vista tem 13 mestres e todos são homens. Marcio também atribui esses fatores ao machismo na sociedade. “A Capoeira ainda é um espaço um pouco machista, assim como nossa sociedade em geral. Entretanto, a gente vem lutando junto com as mulheres para que elas ocupem mais espaço”, disse.

E, para ele, a participação das mulheres nesta modalidade é de suma importância para a comunidade. “Não só atualmente, mas em toda a história, a importância da mulher é o equilíbrio que ela proporciona”, iniciou.

“A mulher traz uma visão e uma forma de ser, de equilibrar, de aceitar, de respeitar, de colocar uma beleza no canto, na ginga, que o homem não consegue. Então ela complementa e faz parte essencial de todos os movimentos, não somente da capoeira como da sociedade de uma forma geral”, completou.

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