90 anos do voto feminino: Historiadora roraimense destaca importância da mulher nos espaços políticos

Apesar do direito ao voto ser uma conquista do movimento feminista, atualmente muitas mulheres são contra o movimento

Por Isaque Santiago | Foto: divulgação

Algo muito comum para as mulheres hoje em dia é o direito ao voto, de participar das eleições que decidem quem serão os governantes das cidades, estados e do país. Apesar de parecer algo normal, que sempre existiu, muitos não sabem que esse direito foi conquistado há apenas 90 anos. Nesta quinta-feira, dia 24 de fevereiro, é comemorado a instituição do voto feminino, que passou a ser assegurado pelo Código Eleitoral de 1932 após decreto assinado pelo então presidente Getúlio Vargas. Dois anos depois, em 1934, ele passou a ser previsto na Constituição Federal. 

Historiadora Yngrid Oliveira
(Foto: arquivo pessoal)

Para a historiadora roraimense Yngrid Oliveira, o direito ao voto garantiu mais espaço para a mulher na sociedade. “Nossa sociedade ainda é machista e patriarcal. Ainda está muito enraizado essa questão do homem estar à frente de todos os espaços sociais como no trabalho e nas relações pessoais. Então, por meio do voto, a mulher consegue se inserir melhor como cidadã e ocupar os espaços sociais”, pontuou.

Após a conquista do direito de votar, as mulheres travaram outra luta, desta vez por espaço na política como parte integrante de câmaras de vereadores, assembleias, prefeituras e governos de estado. “A participação da mulher na política é algo totalmente significativo, é extremamente importante. Isso mostra para outras mulheres que elas também podem ser protagonistas da própria história e podem ser também protagonistas na nossa sociedade. Conseguir exigir o que querem, ter mais voz”, disse. 

Yngrid acredita que a participação das mulheres na política incentiva outras a buscarem estes espaços. “Quando uma mulher vê outra na Câmara, no Senado, nas assembleias e em outros espaços políticos, elas vão ver que também podem estar nestes locais, lutando pelos nossos direitos e correndo atrás da equidade de gênero que ainda está longe de acontecer”, declarou a historiadora. 

Apesar de terem conquistado este espaço, as mulheres ainda lutam para serem respeitadas como políticas. Muitas são desvalorizadas, não são levadas a sério e chegam até a sofrer assédio pelo simples fato de serem mulheres. 

“Eu avalio essa situação como horrível o que a gente tem visto nesses últimos tempos. Infelizmente, quando a mulher se posiciona, quando ela fala como homem, vou colocar nesses termos, ela é tida como problemática, estressada e grossa. Tudo isso em um homem é visto como qualidade, mas na mulher é visto como defeito, infelizmente é assim. Então, a gente tem que mudar esse pensamento de que a mulher tem que ser dócil, feminina e falar com voz calma. A mulher pode falar firme sem que isso seja considerado como defeito. Ela tem que falar firme, correr atrás dos seus direitos, da sua liberdade”, afirmou Yngrid.

Ela ressaltou que apesar das conquistas que o movimento feminista proporcionou, ainda existem mulheres reprimidas pelo machismo. “A luta do feminismo possibilitou que a mulher pudesse votar, se inserir socialmente no espaço da política, mas ainda tem muita mulher que se reprime, que ainda não corre atrás dos seus objetivos por medo, por baixa autoestima, por depressão. Isso é efeito do machismo enraizado na nossa sociedade”, lamentou. 

Historiadora defende união entre as mulheres para conquista de mais espaço na política

Apesar de terem conquistado espaço na política, as mulheres ainda não representam nem metade dos parlamentares na Câmara Federal, no Senador, nas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. A historiadora Yngrid Oliveira acredita que isso acontece por falta de apoio feminino para que as mulheres sejam inseridas no espaço da política. 

“Estamos vivendo uma época de retrocessos e isso faz com com que as mulheres compactuem com o pensamento machista de que só devem ficar em casa, que precisam ser femininas e reprimidas, tipo uma Amélia. As mulheres precisam se unir mais em prol do bem comum, em prol da liberdade, de ter voz, expressão, lugar de fala, ocupar espaços políticos, de trabalho, para que possamos ter igualdade salarial. Elas precisam estar nos espaços de relacionamento, serem protagonistas e não deixarem tudo a mercê do sexo oposto”, disse.

Yngrid ressaltou que assim como afirmava a escritora e ativista política Simone de Beauvoir, o opressor não seria tão forte se não tivesse aliados. “Para o feminismo desabrochar precisamos de aliadas femininas a favor dele. Infelizmente, muitas mulheres são contra. Até representantes de alguns partidos opostos a esse pensamento acabam demonizando muito o feminismo, falando que não é coisa de mulher que se preze, não é coisa de mulher de verdade. Para eles, uma mulher de verdade é aquela que se reprime, que não fala, que não exige”, pontuou. 

Quanto à equidade de gênero nos espaços políticos, Yngrid afirmou que ainda está um pouco distante de acontecer. “Ainda está longe, temos que esperar mais um pouco. O historiador não gosta de falar de futuro, pois a gente não prevê. Mas se continuar desse jeito, com pouco debate sobre o assunto, vai demorar um tempinho ainda. As transformações sociais levam anos para acontecer e só podem acontecer se houver mudança na educação da nova sociedade que está surgindo, dessa geração que está começando a surgir, a geração Z”, afirmou. 

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