Conheça a história de Clarice: a escaladora de desafios que não para de surpreender a família

Sempre quis ter dois filhos. Minha mãe teve dois, meu irmão e eu. Então, em 2012, casei com o Heber e logo engravidamos.

A primeira gestação foi anembrionária, uma frustração inevitável, quando o óvulo fertilizado se implanta no útero da mulher, mas não desenvolve um embrião, gerando um saco gestacional vazio. É considerada uma das principais causas de aborto espontâneo durante o primeiro trimestre, porém não é comum de acontecer.

A partir dali, eu comecei a me interessar por filhos, por leituras sobre gestação, cuidados na gravidez e remédios.

Tivemos a Vitória em junho de 2014, muito esperada, seu nome reflete bem nossa superação de todo o período gestacional. Fiz pilates, quis que o parto fosse natural e, no meio do percurso, ela sentou, ficou na posição pélvica, e o parto normal poderia ser um risco.

Minha cabeça já embolou na consulta com a obstetra e eu aceitei a possibilidade de ser um parto cesáreo. E assim foi. Nasceu saudável e cabeluda, a primeira neta da família.

Com 1 ano e 3 meses, ainda mamando, descobri que estava grávida novamente. Já esperada, pois quando a Vitória fez 1 ano deixei de tomar o anticoncepcional, pensando na dificuldade que poderia ter. Queria ir preparando meu organismo para uma nova fertilização.

Na descoberta, fomos ao consultório fazer a ultrassom e, para minha surpresa, não era apenas um embrião, e sim dois.

Uma mistura de alegria e desespero por conta da boa notícia e de repente ser mãe de três. Mas a consulta nem tinha terminado e eu com pensamentos acelerados já enxergava a lotação máxima de um carro com três crianças na cadeirinha, e, óbvio, minha vida louca a essa altura.

Ao final, a médica me disse: calma mãezinha, apenas um embrião tem batimentos cardíacos, o outro está menor. Vamos fazer um acompanhamento de perto.

Inevitavelmente resgatei os pensamentos da primeira gravidez que não vingou e ali mesmo eu temi o pior.

Com o passar da gestação, o embrião que não apresentou batimentos cardíacos foi absorvido pelo meu corpo e nasceu a Clarice, prematura, com 8 meses, bem miudinha, logo batizada como nosso pacotinho.

Atingiu todos os marcos do desenvolvimento, balbuciava, levantou pescoço, sentou, engatinhou e andou com 1 ano. Mas, com nossa experiência, acabávamos comparando o desenvolvimento das nossas duas meninas, observando cada etapa.

Um belo dia, tomando café com minha amiga de escola, ela comentou sobre uma sobrinha, na mesma idade da Clarice que estava em acompanhamento psicológico por conta de alguns atrasos no desenvolvimento.

Questionei quais seriam esses atrasos, pois, ao meu ver, a criança andava, “falava” e não era aparentemente uma criança com deficiência. As respostas me fizeram refletir na hora e eu disse: mas a Clarice é assim.

Clarice andava na ponta dos pés, embora eu achasse que era adaptação do sapato.

Clarice emitia sons, não se comunicava, pois a gente perguntava e ela não atendia, quando a chamávamos pelo nome, ela não olhava. Me intriguei.

Cheguei em casa e compartilhei com o Heber. Imediatamente consultamos o Dr. Google e pronto, nossa curiosidade e senso de pais nos empurraram a procurar profissionais para atender esses questionamentos.

Em Boa Vista a luta começa com os agendamentos de consultas com especialistas.

Era fevereiro de 2019 e conseguimos a primeira consulta com especialista em agosto. Antes disso, levamos ao pediatra, psicólogo, fonoaudiólogo. Iniciamos em outubro as terapias sugeridas e dali rompemos muitas dificuldades para investigar e estimular nossa pequena, em tempo de retornar com os especialistas e nivelar o desenvolvimento da pacotinho.

Chegou então o dia da consulta e obtivemos o laudo com 6 meses de investigação. Paciente com autismo, cientificamente conhecido como Transtorno do Espectro Autista. Uma síndrome caracterizada por problemas na comunicação, na socialização e no comportamento, geralmente, diagnosticada entre os 2 e 3 anos de idade. Bingo.

O plano de saúde não cobria nenhuma das terapias intensivas que iniciamos. As consultas com especialistas foram todas particulares, custos e mais custos sem fim.

Após 6 meses de psicoterapia, com intervenção precoce do método Denver, eficácia cientificamente comprovada para crianças com Perturbações do Espectro Autista, a pandemia nos pega de surpresa e suspendemos na melhor fase da Clarice.

Ela desbloqueou a fala, avançou na comunicação, mudou de escola, pois a anterior não tinha suporte na sala de aula. Enfrentamos os bloqueios que toda família com uma criança autista se surpreende ao perceber que nada está à nossa disposição.

Hoje enfrentamos o plano de saúde judicialmente, procuramos sempre locais que acolham a Clarice, conseguimos lidar com nossos medos e coragem para o enfrentamento constante na socialização.

As críticas e a ignorância da sociedade nos desmotivam, mas o desenvolvimento da nossa filha só tende a nos fortalecer pra não desistir de nada que venha contribuir.

São tantas experiências que eu gostaria de compartilhar, muitos avanços no atendimento na nossa cidade e um leque de profissionais que se voltaram para o tema.

Certamente, ganhamos muito no desenrolar do processo e aproveito pra encurtar o caminho de famílias que me procuram por ajuda.

Clarice, nossa escaladora, fez 5 anos e frequenta escola regular, terapias suspensas no aguardo da liminar para a cobertura do plano, enquanto isso ela sobe em todos os degraus que enxerga pela frente e de uma coisa eu tenho certeza: no seu caminho da vida, não teremos obstáculos que ela desista de enfrentar. Nossa maior motivadora para todos os montes que ainda vamos subir.

Siloany Lima Neves Amaro

Mãe da Vitória e Clarice, crianças típica e atípica me transformando em uma mulher melhor a cada dia.

Jornalista e Cerimonialista

11 thoughts on “Conheça a história de Clarice: a escaladora de desafios que não para de surpreender a família

  1. Fez voltar no tempo, muito bom meu amor , tenho certeza que algumas famílias irão se identificar com a nossa realidade, as nossa filhas são um o nossos maior tesouro.

  2. Convivo com a Clarice desde quando nasceu e hoje ela está super comunicativa, uma criança alegre e muito amada.
    Parabenizo demais os pais dela que são presentes demais na vida dela e com a Vitória também.

  3. A história bem conheço de perto. Clarice é uma inspiração e uma motivação para a nossa família. Falo com propriedade, que ela despertou, sensações, características em cada membro da família, e em mim, que além de tia da escaladora, sou psicóloga e agora especialista em atendimentos para crianças com TEA. Aprendizado, amor e muita dedicação, é o que todas as crianças com TEA precisavam …. A nossa Clarice, tem sem dúvidas tudo isso!

  4. Tenho o príncipe chamado Vitor Emanuel de 2 anos e 10 meses , Vitor nasceu de 7 meses e teve acompanhamento na maternidade com a doutora celeste e com a neurologista Charlotte até um ano,na última consulta com a Charlotte eu não pude ir por causa do trabalho ,mas sempre ficava observando o Vitor e achava o desenvolvimento dele um pouco lento,pq a irmã dele com um ano falava tudo andava e o Vitor não,mas tinha hrs q pensava isso deve ser coisas da minha cabeça ,e então começou a pandemia e por engano colocaram a ficha do Vitor em uma consulta com a Charlotte me ligaram pensei em dizer moça já terminou as consultas dele,mas Deus queria me dar a resposta ,como no dia tbm não pudia ir meu esposo foi e logo quando a doutora Charlotte começou a conversa com meu esposo ela disse q pela experiência dela o Vitor era autista,falou pro meu esposo ver com fono e Piscicologa,eu corri logo na semana seguinte e fui daí só pediram pra ir com psiquiatra, nós estávamos sem dinheiro pra pagar pois a consulta é bem cara me deram a ideia de mandar mensagem pra prefeita Teresa contando minha situação ai no outro dia me ligaram e já marcaram a consulta com a doutora Raquel para setembro ,foi ai q recebi o laudo,a luta é o tratamento com tudo parado, estamos pagando fono e Piscicologa,mas ta bem difícil pois tudo é muito caro.sempre sigo as dicas q vc compartilha😘😘

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