Como venci a depressão e o medo de ser feliz

Por: Cris Plácida | Foto: arquivo pessoal

Era 26 de janeiro de 2018, estava entrando em um consultório para iniciar o que eu chamo de mudança de vida. Eu pesava quase 100 quilos, sofria com ansiedade, depressão, dores crônicas, hipertensão, perda da libido e muito mais. Estava com 44 anos de idade, um bom emprego, três filhos e um relacionamento de 32 anos.  Comecei a namorar cedo, não me orgulho disso, mas essa é minha história.

Diante desse quadro e de outras histórias que não podem ser contadas aqui, já havia pensado em tirar minha própria vida algumas vezes, mas de algum jeito me mantinha de pé, contudo a dor não diminuía. Eu me sentia a pior mulher do mundo, incapaz, incompetente, feia e obrigada a atender as vontades de todos em busca de migalhas de afeto. Assim como a Ana, das nossas histórias anteriores eu também sofria com o fenômeno da impostora, associado a síndrome da boazinha, vamos falar mais sobre isso em outro momento.

Eu ainda não sabia, mas aquela data ficaria registrada em minha memória para sempre, era uma sexta-feira. Quem é a louca que procura uma profissional para iniciar dieta em um dia como esse? A resposta é: uma mulher desesperada, como medo de perder a vida e não estar ao lado dos seus filhos quando eles precisassem e que não havia experimentado o valioso sentimento, de ser verdadeiramente amada por si mesma.

Dieta da lua, medicação, SPA, cirurgia plástica, dieta da sopa, tudo que você pode imaginar já havia tentado para emagrecer, sem sucesso definitivo. Foi então que descobri que estava tentando pelos motivos errados. Queria emagrecer para entrar em uma roupa, ir a uma festa especial, atender aos padrões sociais, para que meu marido me notasse, enfim motivos que não atendiam minha verdadeira necessidade.  A depressão não me permitia enxergar as coisas direito, eu achava que meu maior problema era ser gorda.

Fui acompanhada por psicóloga, nutricionista, fisioterapeuta, coach, esteticista, educador físico. Eles me fizeram enxergar a mulher extraordinária que existia em mim e que eu deveria emagrecer se fosse importante para mim mesma e por motivos valiosos que melhorassem a minha vida. Isso me libertou da culpa, das comparações e do medo, e então eu me joguei em uma das melhores experiências da minha vida, inclusive é por causa dela que estou aqui hoje, escrevendo para você.

Aprendi a me amar antes de qualquer estratégia alimentar, atividade física ou procedimento estético. Valeu cada minuto do intenso processo de autoconhecimento, precisei vencer muitos limites internos e físicos, pensamentos sabotadores, medo dos julgamentos e do fracasso, preguiça, desordem mental e baixa estima. Emagrecer foi além do desejo de um corpo bonito e recuperação da saúde. Na verdade, foi um resgate de quem eu era, dos sonhos que um dia havia feito meus olhos brilharem e a cura da depressão.

Eu não sei o que impede você de viver a vida que sempre sonhou, mas posso dizer que sair da zona de conforto, tirar a bunda do sofá e movimentar-se para o lugar que deseja será uma experiência extraordinária. Convido você a lembrar da sua menina interior, aquela criança que você esqueceu com os sonhos e planos para o futuro. Ela tem tanta coisa para te dizer e deseja ouvir porque esqueceu dela. E na hora que precisar, busque ajuda, sozinha é sempre mais difícil, existem profissionais e organizações prontas para te estender a mão.

Muitas de nós, mulheres, são levadas a acreditar que devem atender ao que o mundo pede e que precisam disso e daquilo para serem felizes, que sonhos são apenas fantasias e não cabem na vida real. Hoje com meus 48 anos de vida, digo que nada no mundo é melhor que sentir orgulho de quem somos de verdade e saber que mesmo renunciando coisas e pessoas no decorrer do caminho, jamais devemos abrir mão de nós mesmas e da vida que desejamos.

Todo esse processo transformou minha vida. A depressão estava na minha vida desde 2007, vencê-la não foi fácil. Desde o começo os médicos me disseram que eu precisava mudar meu estilo de vida, sair do sedentarismo, manter uma alimentação saudável, mas eu achava que aquilo era enganação, que eu jamais conseguiria, afinal depressão é uma doença crônica e pronto. “Acostume-se a ela, Cristiani Plácida”, era o que eu me dizia.  

Sim, a depressão foi o agente catalisador de todas as doenças elencadas no início do texto, mas ela não me parou. Quando percebi que estava perdendo minha vida, tentei mais uma vez e o resultado me faz acordar todos os dias acreditando que hoje será melhor que ontem e que os problemas serão resolvidos e que se eu cansar, posso descansar e recomeçar quantas vezes forem necessárias. Fácil? Não mesmo, mas possível.

Aprendi que não importa o meu peso, o formato do meu corpo, a minha idade ou os julgamentos e sim, eu sou falhar, vou errar, decepcionar e se decepcionada, sofrer e fazer sofrer, mas isso não diminui meu valor. Nossa mente é capaz de reencontrar a felicidade e o prazer pela vida e quando nos aceitamos do jeitinho que somos, fica cada vez melhor.

E para encerrar vou parafrasear Benjamin Disraeli dizendo que “a vida é muito curta para ser pequena”.  Ao aceitar viver escolhas que fazem por nós ou fazermos escolhas baseadas nas expectativas sobre nós, deixamos de viver a magnitude de um caminho rico de experiências verdadeiramente significativas e perdemos a oportunidade única de sermos quem somos. Por que tornar sua vida pequena se existe uma mulher extraordinária em você?

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